quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Vem e segue-me

       

Quando falamos de vocação, proclamamos o testemunho de nosso chamado a todos. Cada ser humano tem esse precioso dom dentro de si, como diz um padre xaveriano: “não tenho vocação, sou vocação”. O chamado que o Senhor faz a cada um de nós é algo muito particular e é tão real como a luz do dia. Ele continua chamando em todos os tempos para dar continuidade a sua obra salvífica no mundo. Percebemos como o mundo tem sede da Verdade que é Deus e nós como chamados temos a responsabilidade de levar ao mundo essa Luz que clareia qualquer escuridão. Nosso Senhor nos diz claramente que somos o sal e a luz do mundo (Cf Mt 5,13-14).
Observamos ao longo de toda a Sagrada Escritura que a vocação é uma iniciativa de Deus, assim como toda a obra de Redenção é iniciativa do Amor de Deus: Nós amamos porque ele nos amou primeiro (Cf. 1Jo 4, 19). A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores (Rom 5, 8), Ele deu tudo “antes”, sempre faz tudo por nós, antes. Ao tratarmos da vocação que Deus nos chama antes mesmo do nosso nascimento é necessário entrarmos no mundo “sobrenatural” da fé, sem adentrarmos essa realidade não poderemos corresponder ao chamado de Deus, chamado esse que vai muito além do aqui e o agora: “sem a fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11,6). Sei em quem acreditei – diz São Paulo em momentos difíceis -, e estou certo de que ele é poderoso para guardar até aquele dia o bem a mim confiado (2 Tim 1,12). No caminho da vocação, Deus é quem vai na frente como Bom Pastor: Eu sou o Caminho (Jo 14, 6). A pessoa que esta no mundo da fé, acredita nele, crê na Providência e, quando aparece na vida a Cruz, a injustiça, o cansaço, a solidão, a incompreensão, a sensação de inutilidade e fracasso…, não desanima nem abandona o caminho, não renega da vocação nem se recusa a continuar.
A nossa vocação cristã é um dom do Amor de Deus, um dom eterno: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda bênção espiritual nos Céus, em Cristo. Nele, Deus nos escolheu, antes da criação do mundo, pra sermos santos e íntegros diante dele, no amor...(Ef 1, 3-6).



A vocação para a vida religiosa e o sacerdócio é um grande dom eterno e gratuito do Amor de Deus. Segundo João Paulo II é “um mistério um dom que supera infinitamente o homem”. A vocação dos primeiros seguidores mostra isso de maneira clara. Todos eles são “surpreendidos” por Cristo, que os procura e chama (Não fostes vós que me escolhestes…: Jo 15, 16); e lhes faz ver que os tinha escolhido desde toda a eternidade (mal vê Simão, irmão de André, fala-lhe como a um conhecido íntimo Jo 1, 42).
A partir do momento em que correspondem à vocação, já não há planos pessoais, nem há um roteiro pré-estabelecido por Cristo. O caminho agora, é o próprio Cristo, dia a dia, e o roteiro são, em cada momento, os seus passos. Diz Pedro: eis que nós deixamos tudo para te seguir. Que haverá então para nós? (Não sabia o que viria, nem Cristo lhe explicou com detalhes: Jesus disse-lhe apenas que não ficaria sem nada, mas teria o cem por um (Cf. Mt 19, 29). A resposta dos discípulos é confiante, baseada na fé, mesmo que tudo fique na escuridão; tendo a disposição de seguir Jesus aonde quer que vá (Cf. Mt 8,19).
E, na hora da grande crise, após o discurso do Pão vivo, quando muitos abandonam o Senhor, Jesus também não explica nada aos Apóstolos desconcertados. Apenas lhes pede uma nova confiança na chamada, abandono e entrega total em suas mãos: Vós também quereis ir embora? E Pedro responde: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens palavras de vida eterna, e nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus (Jo 6, 67-69).
A vocação exige de nós fidelidade. Ser fiel não é “viver a vocação como desejo”, mas realizar o plano que a Vontade de Deus me pede, e isso pressupõe alegrias, conquistas, tristezas e derrotas. Se queremos ser fiéis, devemos estar dispostos a não ser o “santo” que nós desejaríamos, mas o “santo” que Deus quer que sejamos, e que quase nunca coincide com o ”nosso”. Vemos que Deus põe à prova a nossa fidelidade, para fortalecê-la e torná-la mais sobrenatural, e isso não é um mal, é um bem (Cf. Tg 1, 2-4 Rm 5, 3-5). Na vida existem provações, tentações, que são permitidas por Deus (digo permitidas, pois existem certas tentações provocadas ou alimentadas por nós). Essas provações podem ser interiores, espirituais ou psicológicas: aridez, angústia, amargura, depressão; podem ser corporais, como uma doença física ou um acidente que nos deixa limitados fisicamente; ou podem ser externas, como uma perseguição, uma calúnia, uma injustiça, uma grave dificuldade financeira, etc. Os seguidores e o próprio Cristo sofreram todas essas tribulações basta olharmos atentamente os evangelhos e as cartas de S. Paulo.
Diante de tudo o que foi exposto, não esqueçamos: podemos ter a plena confiança de que “Aquele que nos chamou é fiel” (Cf. I Ts 5, 24) e conhece muito bem nosso coração “sabe de que barros somos feitos” (Cf. Sl 103.14). O chamado é exclusivo Dele. Nós somos apenas seus servos que ao dizer nosso sim cotidiano contamos com toda a sua graça para seguirmos correspondendo ao seu chamado de amor que nos realiza nos mais íntimo de nosso ser. De nós apenas pede a disposição do coração: “Vem e segue-me”.




Everson L. Kloster

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